Entrevista exclusiva com o empresário Paulo Baron da Top Link Music

A Top Link Music, Production and Management, responsável por inúmeras turnês de bandas internacionais por toda a América Latina e Europa, completou 17 anos em 2006, tendo produzido mais de 3.500 shows. Em entrevista exclusiva ao Agenda Metal, o fundador da Top Link Music, Paulo Baron, nos conta curiosidades, novidades e esclarece dúvidas sobre o Live N’ Louder.

Vamos começar falando um pouco sobre a história da Top Link Music. Atualmente vocês têm produzido shows no Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, Bolívia, Peru, El Salvador, Costa Rica, México, Panamá e Guatemala. Como tudo começou?
Paulo: Tudo começou em 1989 quando eu morava na Inglaterra e um amigo me convidou pra me envolver no mundo dos shows. Naquela época eu estudava cinema e estava sempre buscando uma forma de me entrosar também no mundo da música.

Qual foi a primeira banda internacional que vocês produziram shows no Brasil? Qual foi a maior dificuldade?
Paulo: Foi em 1993 com Rick Wakemann na turnê Wakemann & Wakemann. A maior dificuldade era que eu não conhecia muito o Brasil em termos de shows, não conhecia praticamente ninguém e naquela época não tínhamos a facilidade da internet e pra completar eu ainda morava na Inglaterra. Tudo tinha que ser feito por telefone ou por fax. Assim você pode imaginar as contas de telefones que tínhamos naquela época e muitas vezes os fax não chegavam com a informação correta, tudo era mais artesanal.

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Dentre as inúmeras produções, a Top Link Music tem trabalhado com mais de setenta artistas. Poderia compartilhar algum momento marcante ou especial, nessa trajetória?
Paulo: Acho que todos os shows têm alguma coisa especial, principalmente porque estamos acostumados a trabalhar com artistas que temos algum tipo de simpatia. De qualquer forma se tivesse que escolher alguns momentos inesquecíveis, seriam com certeza os dois Live N’ Louder, principalmente porque quando eu era um garoto gostava muito de Van Halen e Scorpions. Inclusive tive oportunidade de vê-los ao vivo quando tinha 13 ou 14 anos de idade. Sentir que eles estavam trabalhando pra mim em um evento meu foi muito importante pra minha trajetória profissional e grande motivo de orgulho.

Desde o Monsters Of Rock, o Brasil esteve muito carente em relação aos grande festivais. Como surgiu a idéia do Live N’ Louder? Quais as dificuldades de realizar um grande festival no Brasil?
Paulo: A idéia surgiu em 2004, inspirado justamente no Monsters of Rock. Percebemos naquela época que o Brasil estava carente de um grande festival de rock/metal. As dificuldades de realizar um festival são muitas, posso destacar algumas delas:
a) Alto custo;
b) A logística: Para organizar um festival do porte do Live, levamos de 9 meses a 1 ano para organizar tudo e isso também envolve muitas pessoas. Pra você ter uma idéia, o tempo que eu levo para realizar um festival desse porte, eu preciso dedicar aproximadamente o mesmo tempo que levaria pra realizar 9 turnês pela América Latina, turnês estas que me trariam mais lucro e haveriam menos gente invejosa querendo que as coisas dessem errado (parece que trabalhando desta maneira eu passo mais “despercebido”);
c) Também a parte burocrática os órgãos brasileiros são muito exigentes, mas ao mesmo tempo muito lentos.
d) Existe um monte de pessoas invejosas envolvidas na cena rock/metal (como eu já citei antes), que por incrível que pareça torcem para que de tudo errado;
e) Lidar com tantas bandas, lidar com diferentes formas de pensar e com diferentes perspectivas de encarar um festival;
f) Os fãs ficam exigindo um festival e na hora que ele acontece, eles não apóiam e não comparecem ao festival porque gostaria que as 12 bandas fosse do agrado dele;
g) Dificuldade pra encontrar um patrocinador: sem patrocinador este evento não se sustenta.
h) As gravadoras e revistas não apóiam como deveriam, todo mundo quer levar uma mordida do bolo;

Como foi o cancelamento da apresentação do Testament na primeira edição e o Black Label Society na segunda? Mesmo com as passagens na mão, o Saxon também cancelou sua participação no Louder. Qual o motivo?
Paulo: Com o Testament eles já tinham cancelado comigo duas outras vezes, uma em 2000 e outra em 2002 por causa do estado de saúde do Chucky Billy. E a terceira (3 dias antes do Live N Louder) que começava no México, eles tiveram problema com troca de guitarrista e segundo a informação que me chegou, o novo guitarrista não estava preparado para fazer um show deste tipo.
É engraçado que o Testament esteja agora fazendo esta turnê e esteja dando certo. Que bom para os promotores, tiveram muita coragem, já que quando me ofereceram novamente a banda eu falei que nunca mais faria.
O Black Label Society foi uma situação muito estranha que ate o momento não entendi. Eles me procuraram, eles queriam tocar o máximo de shows possíveis, cedemos tudo o que eles pediram, o cachê foi pago 100% antecipadamente e no fim inventaram a coisa mais idiota do mundo: me comunicaram que eles não poderiam comparecer no festival porque o disco estava saindo uma semana antes do previsto e eles teriam que começar uma turnê na América do Norte 3 dias antes do Live N’ Louder. Acho que isso é coisa de americano mesmo, eles não levam as coisas a sério, ou vêem nós, os latinos que moram na América Latina, do mesmo jeito que eles vêem os latinos que moram lá nos EUA (com desrespeito e preconceito).
Quanto ao Saxon, eles me desapontaram muito devido à amizade pessoal que eu tenho com a banda há muitos anos. Já fiz mais de 20 shows com a banda nos últimos 8 anos. Inclusive me encontrei com o baixista Nibs na Alemanha e com Thomas (empresário da banda) e o mesmo Thomas me pediu pra ver se eu poderia colocar eles como headliner ou co-headliner, ate pensamos na possibilidade de trazer a “águia” e fazer aquela produção que eles fazem na Europa, ainda bem que não fizemos se não estaríamos ferrados mais ainda. A situação deles acho que foi mais vergonhosa no meu ponto de vista, porque além de ter todo o cachê pago, eles já tinham as passagens de avião compradas e no festival do México, mandamos os motoristas buscarem a banda no aeroporto e a banda simplesmente não chegou. Fora, passar o estresse de tentar ligar no telefone deles mais de 40 vezes pra tentar conseguir uma explicação. Então fiquei sabendo por um musico de outra banda, que o Saxon estava tendo problemas no estúdio com um produtor. O que eu fiz foi mandar uma mensagem por este músico diretamente pro Biff pra que eles pelo menos se pronunciassem pra ver se tocariam pelo menos no Brasil.
Foi uma situação muito desgastante. Eu ainda espero encontrar a banda um dia e pelo menos receber um pedido de desculpas pelo acontecido.
Sei que todos nós temos nossos contratempos, mas mesmo quando você vai chegar tarde numa reunião você deve ligar pra avisar. Acho que isso faz parte do respeito ao ser humano.

É mais fácil trabalhar com os grupos europeus ou norte-americanos?
Paulo: Antigamente eu achava melhor trabalhar com bandas européias, mas depois do que aconteceu com o Saxon, acho que agora é igual. Antes eu pensava que as bandas americanas eram mais desrespeitosas do que as européias.

Qual o critério utilizado para a escolha dos headliners? Particularmente achei eles (Scorpions e David Lee Roth) ótimos!
Paulo: O critério é que a banda seja uma banda clássica, aquelas que foram ou são parte da cultura do rock. E como estas bandas são mais caras, fazemos uma análise para ver se elas vão trazer um mínimo de público necessário para cobrir o custo de tal headliner.

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Como já noticiado no Agenda Metal, a Top Link Music não tem planos para uma edição do Live N’ Louder esse ano, provavelmente só em 2008. Qual o motivo?
Paulo: O motivo principal é que fiquei muito cansado com o acontecido em 2006. Pouca seriedade por parte de algumas bandas (as que não compareceram), muita fofoca (um exemplo disso, se você entra no orkut, vai ver a infantilidade de algumas pessoas), acho isso um absurdo, porque se as pessoas soubessem o que custa chegar a ser um músico profissional e muito mais, ser escolhido para o cast de um festival, não estariam pensando em qual banda é melhor, e sim pensando no que pode representar um festival deste não só para Brasil, mas América Latina. Você esta oferecendo 12 bandas pelo preço de 1!!! Acho que o Brasil talvez não esteja preparado ainda pra encarar grandes festivais. Como você pode ver as bandas aqui devem estar na moda pra reunir grandes massas.
As revistas não apóiam o que deveriam apoiar, ficam mais interessados em festivais que acontece fora do país do que com os que acontecem no Brasil. Também as gravadoras ajudam muito pouco com a promoção do evento. Então me pergunto, pra que se esforçar tanto pra fazer um festival deste porte se as pessoas não valorizam????
E o mais ridículo é que na hora do credenciamento, os mesmo caras que não apoiaram ou os caras que criaram rumores de que o festival estaria cancelado, se matam por uma credencial “all access” ou você vê eles no hotel. Isso não quer dizer que o festival não acontecerá novamente, mas só farei se a gente conseguir um bom patrocinador. Faremos uma última tentativa. Neste momento estaremos com muitas turnês ate o mês de novembro. São mais de 50 shows e esta é nossa prioridade. Mesmo assim a esperança é a ultima que morre.

Agora pessoalmente. Diga cinco bandas que você gostaria de ver em um mesmo festival no Brasil.
Paulo: Ozzy Osbourne, Van Halen, Motley Crue, Deff Leppard e Queen. Tomara que exista alguém com peito suficiente pra fazer um evento deste (rs).

Para este ano já temos confirmado shows do Symphony X em junho, programado Scorpions para agosto e Therion para setembro. A Top Link estaria negociando a vinda de mais alguma banda ao Brasil? Poderia nos adiantar algo?
Paulo: Estamos com mais duas turnês bem legais confirmadas, mas que só poderei anunciar em breve.

No último dia 18 foi confirmada uma inusitada notícia: Show do Symphony X em Manaus. Vocês já promoveram algum show naquele estado? Como você definiria a situação atual do Brasil, em relação aos shows internacionais?
Paulo: Lutamos muito para fazer este show em Manaus. Quando eu era empresário do Shaaman fomos pra lá e foram muitas pessoas no show, já que existem muitos headbangers lá e eles recebem muito poucos shows internacionais. Parece que nestes lugares o público valoriza mais quando chega uma banda de fora. É complicado chegar em Manaus por causa do custo de passagens, mas demos um jeito que ficasse legal para a turnê, fazer este show. Espero que os fãs não só do Symphony X, mas do metal em geral, apareçam em massa para fazer possível a vinda de várias outras bandas a esta cidade.
Acho que estão chegando muitos shows internacionais no Brasil e os fãs estão com pouco dinheiro pra poder assistir a todos. Claro que é legal ver todas essas grandes bandas passando por aqui, mas não tem bolso que agüente.

Gostaria de agradecer a entrevista, e parabenizar a Top Link, pela seriedade, qualidade e respeito com os fãs.
Paulo: Valeu Danilo. Obrigado pelo espaço cedido à Top Link Music e espero que esta entrevista tenha esclarecido dúvidas do público e espero que a cena rock/metal continue crescendo!!!

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